Postado em 26 de Janeiro de 2016 às 16h24

Roberto Acízelo

Voz do Autor (36)

Confira a entrevista com o organizador, em que ele fala sobre o processo de organização do livro e sobre o reconhecimento concedido a sua obra.

1. Prof. Roberto, seu mais recente livro, o premiado “Do mito das Musas à razão das Letras”, certamente requisitou um vasto trabalho de pesquisa para recuperar os diversos textos que compõem a obra. Gostaríamos que falasse um pouco deste trabalho de resgate desses textos de reflexão sobre a literatura, bem como a respeito do processo de tradução de alguns deles, que sequer possuíam uma versão em português ou jamais haviam sido traduzidos para línguas modernas.

A seleção dos textos obedeceu mais a critérios de representatividade do que de qualidade conceitual ou literária. Representatividade das diversas épocas e das tradições linguístico-literárias do Ocidente mais destacadas no período coberto (século VIII a.C. - século XVIII), isto é, a clássica - grega e latina - e, entre as das nações modernas, as tradições italiana, provençal, catalã, espanhola, portuguesa, francesa, inglesa e alemã. Mas, naturalmente, muitas vezes a representatividade se sobrepõe à qualidade, de modo que a seleção contempla diversos textos estimáveis, tanto pela fatura literária quanto pelo vigor conceitual.
De fato há vários textos antes não traduzidos para o português, e em muitos casos nunca traduzidos para qualquer outro idioma ocidental. As traduções se pautaram por critérios uniformes, entre os quais destaco o fato de serem sempre diretas do idioma do original e a partir de textos fixados em edições confiáveis. Isso criou algumas dificuldades quanto a obras escritas em línguas hoje pouco conhecidas e pouco estudadas no Brasil, casos do grego e do latim, bem como do catalão e do provençal medievais. Felizmente, contudo, a inestimável colaboração de alguns especialistas permitiu que, mesmo nesses casos, mantivéssemos intacto o princípio de traduzir sempre diretamente do idioma do original.
Outro critério sistematicamente observado nas traduções, tanto quanto possível, foi o de evitar anacronismos, em especial no que se refere ao vocabulário técnico, isto é, à terminologia filosófica, gramatical, retórica e poética. Assim, só para dar um exemplo, na tradução do trecho selecionado da Gaia ciência procuraram-se sempre soluções fiéis à letra do original provençal, rejeitando-se assim a diretriz modernizante e parafrástica seguida pela versão em francês constante da edição bilíngue utilizada.

2. Ainda sobre esta mesma obra, para o senhor, o que representa este reconhecimento da Academia Brasileira de Letras? O senhor acredita que premiações como essa contribuem para dar ainda mais projeção aos livros?

O prêmio com que a Academia Brasileira de Letras distinguiu o livro, para mim completamente inesperado, me deixou - claro - muito feliz, por partir de instituição de importância histórica e cultural tão amplamente reconhecidas.
Sim, naturalmente: a chancela por um órgão como a ABL, sobretudo num tempo em que o jornalismo cultural dedica espaço tão acanhado à literatura, constitui fator precioso para a projeção do livro, que assim certamente tende a tornar-se mais conhecido, condição afinal para prestar o serviço que se propôs, tanto ao público acadêmico quanto aos interessados em geral pela cultura literária.

3. O livro traz preciosidades da reflexão sobre a literatura escritas por Dante, Platão, Antônio Vieira, Adam Smith, dentre outros, abarcando mais de vinte séculos de história da escrita literária. Desses textos, quais aqueles que o senhor considera seminais para a história dos estudos das práticas literárias?

Na verdade, se por “textos seminais” entendermos aqueles que constituem sementes para a reflexão, por sua capacidade de provocação e estímulo ao pensamento, não faria destaques, pois todos os textos selecionados, a meu ver, são potencialmente seminais. Assim, ao lado de culminâncias intelectuais amplamente reconhecidas, como, entre muitas outras integrantes do livro, as passagens de Platão, Aristóteles, Longino, Dante, etc., etc., figuram contribuições de alcance mais restrito, mas todas de algum modo representativas das diversas ramificações que conheceu a reflexão sobre as letras no extenso período duas vezes milenar coberto pela rede de textos selecionados.

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